quarta-feira, 22 de julho de 2009
Tem quatro teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo aguenta mais formiga.
Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.
MANOEL DE BARROS
---
Foto: Tom Damatta
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento
Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão
Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação
Fonte. flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?
Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino
FERREIRA GULLAR
---Quarto poema da série "poemas portugueses", do livro A LUTA CORPORAL
Foto: que chama te anima? / rezende
sábado, 27 de dezembro de 2008
COMO ANTIGAMENTE
Viajar pelo Brasil é mergulhar na diversidade cultural. Ainda vou achar tempo para não viver de outra coisa senão disto: andar por este país imenso e tão rico culturalmente registrando peculiaridades do povo e dos lugares. Por enquanto, vou levando com desculpas esfarrapadas. Às vezes passo apressado, mas por onde ando reparo.
Tornou-se ainda mais ensolarada e lúdica aquela manhã de domingo quando a mulher de sombrinha e roupa antiga surgiu de uma esquina e danou a descer pelas acentuadas ladeiras de Ouro Preto - MG. Passinhos curtos e apressados, parecia deslizar sobre o calçamento reluzente.
Confesso que quis muito ver a face da andadeira vestida de acordo com a velha cidade, mas ela só descia e descia e descia, como se atraída por alguma urgência qualquer naquele embalo da controversa força magnética comum às ladeiras de Minas. Pra descer é fácil. Subir é que são elas.
Pensei em gritar um "Ei, das antigas!!!" sem nenhum acanhamento. Mas me contive por imaginar que talvez não fosse entendido por ela ou por quem mais atendesse ao chamamento. Sabe-se lá o que passa na cabeça de gente em manhã ensolarada de domingo na velha Ouro Preto.
Apressei o passo para me aproximar puxando prosa e caprichar num retrato. Mas, pensando no caminho de volta, desisti da empreitada. Resolvi me valer do "zum" de minha surrada máquina fotográfica. Para que afinal inventaram as lentes de aproximação? Fiz a foto e deu no que deu. Não vi a cara da dona da roupa que descia ladeiras como se flutuasse.
Restou aquela vontade danada de saber quem era a mulher da roupa que parecia andar sozinha, de tirar prosa com ela, de trocar um olhar seguro para saber, entre outras coisas, as razões daquele “desfile dominical”. É que depois fiquei sabendo, por informação de outras mulheres também vestidas como antigamente, que a “modelo” em questão não fazia propaganda de nenhum daqueles estúdios fotográficos que faturam dos turistas que queiram fazer fotos em trajes de época em cidades históricas.
Sim, Ouro Preto e outras cidades brasileiras têm estúdios que põem o sujeito bem ao estilo “tempo do ronca”, em fotos muitas vezes instantâneas e até digitais, mas envelhecidas como se saíssem de um velho baú de guardados. Tais estúdios despertam o interesse das pessoas usando modelos que se expõem nas esquinas, como se estivessem noutro tempo, completamente fora da moda atual. A estratégia, claro, é fisgar freguesia. E como funciona.
Mas isso nada tem a ver com o caso da dona que desceu a ladeira em trajes antigos e me despertou interesses. Como me disseram, "Ela é assim mesmo, uai! Todo domingo se veste desta maneira e sai passeando."
Agora tenho mais é que arranjar um desfecho para o texto que já me parece demasiado longo para uma página na Internet. E é justamente nesta hora que me ponho a pensar na necessidade de achar mais tempo para conhecer lugares como Ouro Preto e outras tantas cidades históricas, redescobrindo e registrando peculiaridades do povo e dos lugares do Brasil.
Um dia ainda acho esse tempo. E tomara que com capacidade e paciência para escrever traduzindo sensações como a de querer entender o que se passa na cabeça de alguém que se traja como antigamente e sai a andar como se flutuasse por ruas antigas e íngremes como as de Ouro Preto numa ensolarada e lúdica manhã de domingo.
---------------------------------------------------------
ANTONIO REZENDE, da série PROSA PARA FOTOGRAFIA
Publicado originalmente em http://www.claraonline.com.br/
terça-feira, 14 de outubro de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
domingo, 3 de fevereiro de 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Bicho acostumado na toca encega com estrela
MANOEL DE BARROS
Bicho acostumado na toca encega com estrela
MANOEL DE BARROS
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
INÉDITOS DE PESSOA*
Longe de mim em mim existo
A parte de quem sou,
A sombra e o movimento em que consisto
(1920)
Quero, terei-
Se não aqui,
Noutro lugar que inda não sei.
Nada perdi.
Tudo serei.
(1933)
*Poemas extraídos de publicação do escritor Teódolo López Melénez, no site CRONÓPIOS.
Ilustração: CASA FERNANDO PESSOA
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
É melhor homem soltar longas palavras
e engolir as que um outro fala
pois não é digno homem de palavra
que ainda por cima reclama
que aquelas que comeu não tinham sal
É melhor homem deixar a fala
e não ter boca
é melhor que alguém, eu mesmo,
repare em sua falta
Não é meu vocábulo
e já estou cheio dos seus
É melhor costurar-lhe os lábios
cortar as suas orelhas sem ouvidos
queimar o seu dicionário
É melhor
que os seus olhos ouçam e falem além disso
GREGORY CORSO
Versão: Décio Pignatari
(Gregory Corso é um dos pesos-pesados da chamada beat generation)
e engolir as que um outro fala
pois não é digno homem de palavra
que ainda por cima reclama
que aquelas que comeu não tinham sal
É melhor homem deixar a fala
e não ter boca
é melhor que alguém, eu mesmo,
repare em sua falta
Não é meu vocábulo
e já estou cheio dos seus
É melhor costurar-lhe os lábios
cortar as suas orelhas sem ouvidos
queimar o seu dicionário
É melhor
que os seus olhos ouçam e falem além disso
GREGORY CORSO
Versão: Décio Pignatari
(Gregory Corso é um dos pesos-pesados da chamada beat generation)
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
E AÍ... FIRME?!
Como vão as sandálias
que calças com arte
fivela pra fora da parte
da perna da calça
a única causa
que tens no chão?
---
Trecho de uma cançao de CHICO MARANHÃO
foto: e aí, frime?! / rezende
domingo, 13 de janeiro de 2008
OPUS DEI
Fez Deus mesmo ausente
O Universo.
O reverso dessa obra:
O homem o fez:
O Deus neófito de cada vez.
E dito também nos apócrifos
Que o homem escreveu.
E a Deus o homem Deus
nos deu.
ANTONIO CARLOS ALVIM
Alvim é um dos fundadores da extinta mas "imortal" ACADEMIA DOS PÁRIAS.
Publica poemas aqui de vez em quando
O Universo.
O reverso dessa obra:
O homem o fez:
O Deus neófito de cada vez.
E dito também nos apócrifos
Que o homem escreveu.
E a Deus o homem Deus
nos deu.
ANTONIO CARLOS ALVIM
Alvim é um dos fundadores da extinta mas "imortal" ACADEMIA DOS PÁRIAS.
Publica poemas aqui de vez em quando
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
se me dôo
não grito
doar não
me deixa aflito
doer:
nosso eterno conflito
GILSON CAVALCANTE
Gilson é poeta e jornalista. Tem uns livros publicados e está com outros engavetados.
poemante@hotmail.com
não grito
doar não
me deixa aflito
doer:
nosso eterno conflito
GILSON CAVALCANTE
Gilson é poeta e jornalista. Tem uns livros publicados e está com outros engavetados.
poemante@hotmail.com
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
preciso de asas
de xícara
de fada
anjo
ou outra coisa alada
DÉBORA PRADO
Débora arrisca uns versos e escreve neste blog: http://gudvelsignedeg.blogspot.com
de xícara
de fada
anjo
ou outra coisa alada
DÉBORA PRADO
Débora arrisca uns versos e escreve neste blog: http://gudvelsignedeg.blogspot.com
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
ADIANTE!!!
domingo, 2 de dezembro de 2007
EU, COM MEUS PRÓPRIOS PÉS DE BARRO
Eu, com meus próprios pés de barro
Cruzava então os continentes assombrados
Inclemente ao clamor dos elementos
Colhia flores para os meus heróis avaros
Meus iguais que dormiam sob a chuva
E nas copas das árvores que eu vergava
Benditos frutos entre sementes vegetando
Ásperos como a voz que os embalava.
Eu, como meus próprios pés de barro
Devastava as antigas tribos insulares
Devorando raízes e mitos sagrados
Congelando e tatuando a alma dos bravos
E dos sábios em moedas de ouro roubadas
Para forjar um país de amotinados.
Esse sonho era minha febre, e eu soprava
Como um deus exasperado sobre os vivos
O sopro que a mim mesmo eu recusava.
Eu, com meus próprios pés de barro
Regia esse escarcéu que me exilava
Mas o que era eu nesse tempo inventado?
O que impedia a queda tão esperada?
Eu queria acordar no meio da tarde
Ouvindo sons de risos ou de flautas
Que aplacassem a lenda onde eu reinava
Que revogasse a pena desses homens
plantas e bichos aos meus pés
Mas o barro do poema me enterrava.
FERNANDO ABREU
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
terça-feira, 13 de novembro de 2007
sábado, 10 de novembro de 2007
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
A ponte
sem água
exibe os
fundos do mar
Vai zio
um ônibus
atrás versa
imagens cotidianas
No foi-se
do sol
a lua
espera a sua vez
E
por acaso
contemplas
a fina tarde
e meus alardes de adeus
GARRONE
raimundogarrone@uol.com.br
Garrone é jornalista, curte estrada e arrisca uns versos.
Foto: panorâmica do Rio Anil na maré baixa em São Luís - MA. / Rezende
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
ORAÇÃO PELA AMNÉSIA
talvez
o que me escape
seja o que mais salte
em mim
sabe lá
se o que eu não veja
reze pelos meus cantos
assim seja
portanto
o que me fuja da memória
à revelia
revele minha história
que nem eu saiba mais enfim
se sou eu que ando por aí
em carne osso coração e mente
ou se é meu fantasma demente
rindo de todo mundo
e de mim
FERNANDO ABREU
------
Poema do livro Relatos do Escambau
Musicado por Chico César
Foto: um auto-retrato / Rezende
escambau@hotmail.com
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
MANTENHA DISTÂNCIA
A poesia é uma droga alucinatória
mais forte que o LSD e o poder.
Só deve ser usada contra o real.
Causa ao viciado - deliriuns tremens,
desprezo da sociedade & a pena capital.
Perigo. Perigo. Perigo.
Mantenha distância do poema.
Evite o primeiro verso.
LUIS AUGUSTO CASSAS
Poema do livro ROSEBUD, 1990.
Cassas é poeta dos bons e tem um patuá de livros publicados
mais forte que o LSD e o poder.
Só deve ser usada contra o real.
Causa ao viciado - deliriuns tremens,
desprezo da sociedade & a pena capital.
Perigo. Perigo. Perigo.
Mantenha distância do poema.
Evite o primeiro verso.
LUIS AUGUSTO CASSAS
Poema do livro ROSEBUD, 1990.
Cassas é poeta dos bons e tem um patuá de livros publicados
terça-feira, 30 de outubro de 2007
GILSON CÉSAR
feição
ou cara
ou cara
meu verso
é confissão
coisa que se escancara
Palhaço, todo alma e expressão, ele faz mímica como quem
arquiteta versos. Seus gestos são como imã que prendem o
olhar da gente. Este bar dos bardos é fã de seus poemas mudos,
que falam pela explosão do riso do respeitável público.
Poema: Rezende / Foto: Divulgação
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
poste aceso no
saara.
a sombra
sozinha
de uma nuvem
ilhada
no meio da água.
pra você disseram
cuidado
e o tipo de coisa
que você aprende é assim
:
desconfiar do susto. evitar o soluço do assalto.
tomar os remédios antes e perguntar
depois.
pra você disseram
como evitar
sem sair de casa a
solidão (poste aceso no saara. sombra
sozinha
de uma nuvem ilhada
no meio da água.)
e todos os seus
dias agora são assim
:
sol se pondo
sobre os créditos do filme da sessão
da tarde.
óculos escuros em todas as
fotografias do álbum,
dissimulando seus olhos ancestrais,
seus olhos mais
caninos
cravados outrora
na estrela mais nova e mais
solitários
que a morte.
REUBEN DA CUNHA ROCHA
saara.
a sombra
sozinha
de uma nuvem
ilhada
no meio da água.
pra você disseram
cuidado
e o tipo de coisa
que você aprende é assim
:
desconfiar do susto. evitar o soluço do assalto.
tomar os remédios antes e perguntar
depois.
pra você disseram
como evitar
sem sair de casa a
solidão (poste aceso no saara. sombra
sozinha
de uma nuvem ilhada
no meio da água.)
e todos os seus
dias agora são assim
:
sol se pondo
sobre os créditos do filme da sessão
da tarde.
óculos escuros em todas as
fotografias do álbum,
dissimulando seus olhos ancestrais,
seus olhos mais
caninos
cravados outrora
na estrela mais nova e mais
solitários
que a morte.
REUBEN DA CUNHA ROCHA
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
LUNDI MATIN
le soleil eclaire
l'immensité
du monde
et incendie
mon coeur
vagabond
Tradução de Elisabeth Delquignie para o poema
MANHÃ DE SEGUNDA, de Antonio Rezende
Poema do livro ACERTO DE CONTAS
já publicado no bar dos bardos em 2 de junho de 2007.
Para vê-lo em português clique aqui
sábado, 6 de outubro de 2007
O PARTO
Meu corpo está completo, não o homem – o poeta.
Mas eu quero e é necessário
que me sofra e me solidifique em poeta,
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório
e me alucine na essência de mim e das coisas,
para depois, feliz ou sofrido, mas verdadeiro,
trazer-me à tona do poema
com um grito de alarma e de alarde:
ser poeta é duro e dura
e consome toda
uma existência.
Poema do livro CAMPO SEM BASE
Mais sobre Nauro Machado aqui
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
DISCRIMINAÇÃO
niggers um após o outro vários
spics além de jews cada vez mais
mobsters podiam ser menos
wasps entre tantos
white trashes em excesso inúmeros ou quase
baianos a perder de vista inclusive
cucarachas centenas deles ainda assim
japas aos montes já é demais
turcos
paraíbas
e assim por diante
CELSO BORGES
---
Celso Borges tem vários livros de poemas, entre eles o livro-CD MÚSICA
Foto: no metrô / rezende
spics além de jews cada vez mais
mobsters podiam ser menos
wasps entre tantos
white trashes em excesso inúmeros ou quase
baianos a perder de vista inclusive
cucarachas centenas deles ainda assim
japas aos montes já é demais
turcos
paraíbas
e assim por diante
CELSO BORGES
---
Celso Borges tem vários livros de poemas, entre eles o livro-CD MÚSICA
Foto: no metrô / rezende
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
NA ORDEM DO DIA
A chuva se arma em volume azul.
Escorro pelas ruas
meu sentimento blues.
Porque chove,
a água impílicita me comove
e me encharca de poesia.
Motivo vertical
na ordem do dia.
GILSON CAVALCANTE
------
Gilson Cavalcante tem alguns livros publicados, entre eles REINVENTÁRIO DA PAISAGEM e POEMAS DA MARGEM ESQUERDA DO RIO DE DENTRO.
gicante@bol.com.br
gicante@bol.com.br
Foto: na chuva / rezende
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
AFECÇÃO HABITUAL
verdadeiro ou mentiroso
tímido ou venenoso
estou contigo e ouso
ser dos lados o elo
dos feios o belo
ANTONIO CARLOS ALVIM
Alvim é poeta maranhense
tímido ou venenoso
estou contigo e ouso
ser dos lados o elo
dos feios o belo
ANTONIO CARLOS ALVIM
Alvim é poeta maranhense
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
terça-feira, 18 de setembro de 2007
SÃO LUÍS EM P&B
Sempre achei que fotografia é o poema que se faz com luz e sombra, a partir da sacação silenciosa do olhar atento.
Divido com vocês a descoberta do site do Anilson, que retrata muito bem a centenária São Luís do Maranhão, em preto e branco.
www.anilson.com.br
sábado, 8 de setembro de 2007
Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento
Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão
Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação
Fonte. flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?
Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino
FERREIRA GULLAR
---
Quarto poema da série "poemas portugueses", do livro A LUTA CORPORAL
além destas mortes
de que me alimento
Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão
Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação
Fonte. flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?
Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino
FERREIRA GULLAR
---
Quarto poema da série "poemas portugueses", do livro A LUTA CORPORAL
Foto: que chama te anima? / rezende
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
DEMORA DEFINIDA
A poesia em mim
Sendo o que me minta
Nunca tem fim
Sempre foi assim
Tudo em mim ela grita
Nunca foi só escrita
Criou em mim até cripta
Túmulo dentro em mim
Sempre foi assim
A poesia em mim
Sendo o que me minta
Criou dartros na alma
Deixou rastros de alma
Em mim
E de mim
Sempre foi assim
A poesia em mim
Sendo o que me minta
Escreve-se assim:
Poesia até o fim...
ANTONIO CARLOS ALVIM
Sendo o que me minta
Nunca tem fim
Sempre foi assim
Tudo em mim ela grita
Nunca foi só escrita
Criou em mim até cripta
Túmulo dentro em mim
Sempre foi assim
A poesia em mim
Sendo o que me minta
Criou dartros na alma
Deixou rastros de alma
Em mim
E de mim
Sempre foi assim
A poesia em mim
Sendo o que me minta
Escreve-se assim:
Poesia até o fim...
ANTONIO CARLOS ALVIM
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
CONTEMPLO O TEMPO
contemplo o tempo
que já não me sobra
há dentro um templo
só de deuses mortos
de quanta fé fez-se
a ruína dessa obra?
acaso este deserto
que me encara
recebe de volta
outra miragem?
será que a sede
deste agreste
inundará de ventos
meus nordestes
apagando
meus rastros rostos
restos?
eu que já fui rês
pra toda corda
eu que já fui punhal
pra todo cabra
eu que já fui pau
pra toda cobra
o que serei
após esse deslinde?
coisa livre de fim
areia aos montes
disseminando dunas
e baías
finíssima lâmina
a teus pés
se contemplas o mar
e sonhas dissolver-te
nessa esfera
súbito
grão de areia
ao vento
turva a cena
e te desperta
prazer
de me afogar
nesse dilúvio
subatômico
-lágrima irritada
que teu olho verte
FERNANDO ABREU
foto: Rezende
que já não me sobra
há dentro um templo
só de deuses mortos
de quanta fé fez-se
a ruína dessa obra?
acaso este deserto
que me encara
recebe de volta
outra miragem?
será que a sede
deste agreste
inundará de ventos
meus nordestes
apagando
meus rastros rostos
restos?
eu que já fui rês
pra toda corda
eu que já fui punhal
pra todo cabra
eu que já fui pau
pra toda cobra
o que serei
após esse deslinde?
coisa livre de fim
areia aos montes
disseminando dunas
e baías
finíssima lâmina
a teus pés
se contemplas o mar
e sonhas dissolver-te
nessa esfera
súbito
grão de areia
ao vento
turva a cena
e te desperta
prazer
de me afogar
nesse dilúvio
subatômico
-lágrima irritada
que teu olho verte
FERNANDO ABREU
foto: Rezende
sábado, 18 de agosto de 2007
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Cresce o homem com tudo que cresce
e se acrescenta Pedro com seu rio,
com a árvore que sobe sem falar
por isso minha palavra cresce
e cresce:
vem daquele silêncio com raízes,
dos dias do trigo,
daqueles germes intransferíveis,
da água extensa,
do sol cerrado sem seu consentimento,
dos cavalos suando na chuva.
e se acrescenta Pedro com seu rio,
com a árvore que sobe sem falar
por isso minha palavra cresce
e cresce:
vem daquele silêncio com raízes,
dos dias do trigo,
daqueles germes intransferíveis,
da água extensa,
do sol cerrado sem seu consentimento,
dos cavalos suando na chuva.
---
Poema XIII do livro AINDA, de PABLO NERUDA
Foto: Manuel Raphael (http://www.olhares.com/manraphael)
terça-feira, 3 de julho de 2007
domingo, 24 de junho de 2007
sábado, 23 de junho de 2007
quinta-feira, 21 de junho de 2007
O SILÊNCIO DOS POETAS
antes de mim antes de ti
tu és eu sou
os nomes do mundo
o nosso motor
dentro de mim dentro de ti
não sei quem és não sei quem sou
os olhos são outros
é outro o ator
assim, o que eu vejo o que tu vês
não é antes não é depois
é o tempo parado
um sonho além dos dois
um dois três quatro
seguimos olhando um outro retrato
moldura descontínua
comida fora do prato
mas continuamos a falar
um aqui outro lá
da química louca, lugar de outro lugar
e caminhamos enfim
tu contigo eu comigo
procurando cada um o centro do outro
cara a cara o nosso umbigo
- mundo mudo -
construindo a nós mesmos pela segunda vez
tu a ti e eu a mim
tu em ti eu em mim
até que morra um de nós e depois o outro
tu és eu sou
os nomes do mundo
o nosso motor
dentro de mim dentro de ti
não sei quem és não sei quem sou
os olhos são outros
é outro o ator
assim, o que eu vejo o que tu vês
não é antes não é depois
é o tempo parado
um sonho além dos dois
um dois três quatro
seguimos olhando um outro retrato
moldura descontínua
comida fora do prato
mas continuamos a falar
um aqui outro lá
da química louca, lugar de outro lugar
e caminhamos enfim
tu contigo eu comigo
procurando cada um o centro do outro
cara a cara o nosso umbigo
- mundo mudo -
construindo a nós mesmos pela segunda vez
tu a ti e eu a mim
tu em ti eu em mim
até que morra um de nós e depois o outro
.
CELSO BORGES
---
Poema escrito a partir de um texto do poeta e semiólogo português Alberto Pimenta. Os trechos em itálico são de sua autoria. Do livro-cd MÚSICA, que mistura poesia e som e reúne cerca de 50 artistas brasileiros. Mais informações: cbpoema@uol.com.br
quinta-feira, 7 de junho de 2007
AGRURAS DA LATA D'ÁGUA
Se nós fosse lata d’água
Nós vivia impariado
Pingando pingos de amor.
E meu deus por funileiro
Com tesoura, brasa e solda
Querendo fazer de nós
Um bonito aguador.
Nós vivia impariado
Pingando pingos de amor.
E meu deus por funileiro
Com tesoura, brasa e solda
Querendo fazer de nós
Um bonito aguador.
A lata d’água chega no interior
Embalando o querosene.
E na velocidade de Herodes pra Pilatos
Vai mudando de formato.
Agruras da lata d’água
É a própria lata d’água
Falando de sua vida...
E eu que fui injeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca
Sabão grudaram nos furo
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada
Muitas vezes num jumento
Era aquele sofrimento
As juntas enferrujadas
Fiquei com o fundo comido
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Daí nasceu minha mágoa.
O pau da boca caía
Os beiços não resistia.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca
Lá vaio pau para o fundo.
Mas que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Já quase toda enferrujada
Provei lavagem de porco.
Aí mexeram de novo:
Botaram o pau na bengala.
E assim desconchavada
Me dei areia, cimento
Carreguei muito concreto
Molhado, duro e friento.
Sofri de peitos abertos,
Levei baque, dei topada,
Me amassaram as beirada,
Cortaram minhas entranha,
Lá fui eu assar castanha
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
É inverno, é chuva, é água
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada
Embalando o querosene.
E na velocidade de Herodes pra Pilatos
Vai mudando de formato.
Agruras da lata d’água
É a própria lata d’água
Falando de sua vida...
E eu que fui injeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca
Sabão grudaram nos furo
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada
Muitas vezes num jumento
Era aquele sofrimento
As juntas enferrujadas
Fiquei com o fundo comido
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Daí nasceu minha mágoa.
O pau da boca caía
Os beiços não resistia.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca
Lá vaio pau para o fundo.
Mas que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Já quase toda enferrujada
Provei lavagem de porco.
Aí mexeram de novo:
Botaram o pau na bengala.
E assim desconchavada
Me dei areia, cimento
Carreguei muito concreto
Molhado, duro e friento.
Sofri de peitos abertos,
Levei baque, dei topada,
Me amassaram as beirada,
Cortaram minhas entranha,
Lá fui eu assar castanha
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
É inverno, é chuva, é água
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada
JESSIER QUIRINO
---
Foto: bica de cumeeira / rezende
terça-feira, 5 de junho de 2007
ÀS VEZES COM A PESSOA A QUEM AMO
Às vezes com a pessoa a quem amo
Fico cheio de raiva
Por medo de estar só eu dando amor
Sem ser retribuído;
Agora eu penso que não pode haver amor
Sem retribuição, que a paga é certa
De uma forma ou de outra.
(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi correspondido,
mas foi daí que tirei estes cantos.)
WALT WHITMAN ("Folhas de Relva")
Fico cheio de raiva
Por medo de estar só eu dando amor
Sem ser retribuído;
Agora eu penso que não pode haver amor
Sem retribuição, que a paga é certa
De uma forma ou de outra.
(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi correspondido,
mas foi daí que tirei estes cantos.)
WALT WHITMAN ("Folhas de Relva")
sábado, 2 de junho de 2007
MANHÃ DE SEGUNDA
quinta-feira, 17 de maio de 2007
sábado, 12 de maio de 2007
segunda-feira, 7 de maio de 2007
ACERTO DE CONTAS
Acerto de Contas, livro de estréia de Antonio Rezende. Publicado em maio no Salão do Livro do Tocantins, está sendo lançado em várias cidades tocantinenses e em algumas capitais brasileiras. Pedidos pelo email poeme-se@hotmail.com
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"Se existe uma palavra que possa definir o poeta Rezende, essa palavra é intensidade. Sangüíneo, anatomia louca, todo coração"
(Zeca Baleiro)
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"O que sustenta a voz firme e hoje mais calejada de Rezende é a consciência plena da grandeza da poesia. E da grandeza do gesto de abraçá-la, para o prazer e para a dor"
(Fernando Abreu)
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"Rezende é um poeta do coração. Quando lembro dele ou leio algum de seus poemas, é a sua imagem despojada e verdadeira, vazando ternura, que me vem à cabeça"
(Celso Borges)
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