Entre sem bater...
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domingo, 24 de junho de 2007

Se esse amor
for coisa barata
por favor:
pega o chinelo
e mata.

ANDRÉ GONÇALVES
do blog FARINHADA

sábado, 23 de junho de 2007

CONSULTA


sabe, doutor...
eu vim aqui
pra ver se há cura
pra espasmos de ternura

REZENDE
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poema do livro ACERTO DE CONTAS

quinta-feira, 21 de junho de 2007


em tua mão destra
meu violino só
vira orquestra

LÚCIA SANTOS

Poema do livro UMA GUEIXA PRA BASHÔ.
Foto encontrada no Google, sem crédito de autor.

O SILÊNCIO DOS POETAS

antes de mim antes de ti
tu és eu sou
os nomes do mundo
o nosso motor

dentro de mim dentro de ti
não sei quem és não sei quem sou
os olhos são outros
é outro o ator

assim, o que eu vejo o que tu vês
não é antes não é depois
é o tempo parado
um sonho além dos dois

um dois três quatro
seguimos olhando um outro retrato
moldura descontínua
comida fora do prato

mas continuamos a falar
um aqui outro lá
da química louca, lugar de outro lugar

e caminhamos enfim
tu contigo eu comigo
procurando cada um o centro do outro
cara a cara o nosso umbigo
- mundo mudo -
construindo a nós mesmos pela segunda vez
tu a ti e eu a mim
tu em ti eu em mim
até que morra um de nós e depois o outro
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CELSO BORGES
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Poema escrito a partir de um texto do poeta e semiólogo português Alberto Pimenta. Os trechos em itálico são de sua autoria. Do livro-cd MÚSICA, que mistura poesia e som e reúne cerca de 50 artistas brasileiros. Mais informações: cbpoema@uol.com.br

quinta-feira, 7 de junho de 2007

AGRURAS DA LATA D'ÁGUA



Se nós fosse lata d’água
Nós vivia impariado
Pingando pingos de amor.
E meu deus por funileiro
Com tesoura, brasa e solda
Querendo fazer de nós
Um bonito aguador.
A lata d’água chega no interior
Embalando o querosene.
E na velocidade de Herodes pra Pilatos
Vai mudando de formato.
Agruras da lata d’água
É a própria lata d’água
Falando de sua vida...
E eu que fui injeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca
Sabão grudaram nos furo
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada
Muitas vezes num jumento
Era aquele sofrimento
As juntas enferrujadas
Fiquei com o fundo comido
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Daí nasceu minha mágoa.
O pau da boca caía
Os beiços não resistia.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca
Lá vaio pau para o fundo.
Mas que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Já quase toda enferrujada
Provei lavagem de porco.
Aí mexeram de novo:
Botaram o pau na bengala.
E assim desconchavada
Me dei areia, cimento
Carreguei muito concreto
Molhado, duro e friento.
Sofri de peitos abertos,
Levei baque, dei topada,
Me amassaram as beirada,
Cortaram minhas entranha,
Lá fui eu assar castanha
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
É inverno, é chuva, é água
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada


JESSIER QUIRINO
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Foto: bica de cumeeira / rezende

terça-feira, 5 de junho de 2007

ÀS VEZES COM A PESSOA A QUEM AMO

Às vezes com a pessoa a quem amo
Fico cheio de raiva
Por medo de estar só eu dando amor
Sem ser retribuído;
Agora eu penso que não pode haver amor
Sem retribuição, que a paga é certa
De uma forma ou de outra.
(Amei certa pessoa ardentemente
e meu amor não foi correspondido,
mas foi daí que tirei estes cantos.)

WALT WHITMAN ("Folhas de Relva")

sábado, 2 de junho de 2007

MANHÃ DE SEGUNDA


o sol clareia
a imensidão
do mundo

e incendeia
meu coração
vagabundo


REZENDE

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Poema do livro ACERTO DE CONTAS
Foto: manhã em São Francisco do Sul-SC / rezende