Entre sem bater...
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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

DEMORA DEFINIDA

A poesia em mim
Sendo o que me minta
Nunca tem fim
Sempre foi assim

Tudo em mim ela grita
Nunca foi só escrita
Criou em mim até cripta

Túmulo dentro em mim

Sempre foi assim

A poesia em mim
Sendo o que me minta
Criou dartros na alma
Deixou rastros de alma
Em mim
E de mim

Sempre foi assim

A poesia em mim
Sendo o que me minta
Escreve-se assim:
Poesia até o fim...

ANTONIO CARLOS ALVIM

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

ASSASSINO...


é todo homem que
ao crescer
mata em si o menino


SÉRGIO NATUREZA

ilustração: Chico Caruso

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

CONTEMPLO O TEMPO


contemplo o tempo
que já não me sobra
há dentro um templo
só de deuses mortos
de quanta fé fez-se
a ruína dessa obra?

acaso este deserto
que me encara
recebe de volta
outra miragem?

será que a sede
deste agreste
inundará de ventos
meus nordestes

apagando
meus rastros rostos
restos?

eu que já fui rês
pra toda corda
eu que já fui punhal
pra todo cabra
eu que já fui pau
pra toda cobra

o que serei
após esse deslinde?

coisa livre de fim
areia aos montes
disseminando dunas
e baías

finíssima lâmina
a teus pés
se contemplas o mar
e sonhas dissolver-te
nessa esfera

súbito
grão de areia
ao vento
turva a cena
e te desperta

prazer
de me afogar
nesse dilúvio
subatômico
-lágrima irritada
que teu olho verte

FERNANDO ABREU

foto: Rezende

sábado, 18 de agosto de 2007


Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora leio avencas.
Tem hora, Proust.
Ouço aves e beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.

O dia vai morrer aberto em mim.

MANOEL DE BARROS

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Foto: gotas em broto de laranjeira / Nikon D50

quinta-feira, 2 de agosto de 2007


Cresce o homem com tudo que cresce
e se acrescenta Pedro com seu rio,
com a árvore que sobe sem falar
por isso minha palavra cresce
e cresce:
vem daquele silêncio com raízes,
dos dias do trigo,
daqueles germes intransferíveis,
da água extensa,
do sol cerrado sem seu consentimento,
dos cavalos suando na chuva.
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Poema XIII do livro AINDA, de PABLO NERUDA
Foto: Manuel Raphael (http://www.olhares.com/manraphael)