Entre sem bater...
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quinta-feira, 7 de junho de 2007

AGRURAS DA LATA D'ÁGUA



Se nós fosse lata d’água
Nós vivia impariado
Pingando pingos de amor.
E meu deus por funileiro
Com tesoura, brasa e solda
Querendo fazer de nós
Um bonito aguador.
A lata d’água chega no interior
Embalando o querosene.
E na velocidade de Herodes pra Pilatos
Vai mudando de formato.
Agruras da lata d’água
É a própria lata d’água
Falando de sua vida...
E eu que fui injeitada
Só porque era furada.
Me botaram um pau na boca
Sabão grudaram nos furo
Me obrigaram a levar água
Muitas vezes pendurada
Muitas vezes num jumento
Era aquele sofrimento
As juntas enferrujadas
Fiquei com o fundo comido
Quando pensei que tivesse
Minha batalha cumprido
Um remendo me fizeram:
Tome madeira no fundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Daí nasceu minha mágoa.
O pau da boca caía
Os beiços não resistia.
Me fizeram um troca-troca:
Lá vem o fundo pra boca
Lá vaio pau para o fundo.
Mas que trocado mais sem graça
Na frente de todo mundo.
E tome água e leva água...
E tome água e leva água...
Já quase toda enferrujada
Provei lavagem de porco.
Aí mexeram de novo:
Botaram o pau na bengala.
E assim desconchavada
Me dei areia, cimento
Carreguei muito concreto
Molhado, duro e friento.
Sofri de peitos abertos,
Levei baque, dei topada,
Me amassaram as beirada,
Cortaram minhas entranha,
Lá fui eu assar castanha
Fui por fim escancarada.
Servi de cocho de porco
Servi também de latada.
Se a coisa não complica
Talvez eu seja uma bica
Pela próxima invernada.
É inverno, é chuva, é água
E eu encherei outras latas
Cumprindo minha jornada


JESSIER QUIRINO
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Foto: bica de cumeeira / rezende